Pomba dos amores – Lycurgo José Henrique de Paiva


Pomba dos amores
Lycurgo José Henrique de Paiva

Por que tu fostes, pomba dos amores?
Por que nos ermos me deixaste só?
Tiveste medo de que eu te perdesse,
Ou que de um tiro te arrojasse ao pó?

Pobre pombinha! que no amor não cresces
Do caçador perdido no teu lar!…
Que não quisesses dar-lhe essa ventura
De na solidão escutar!…

E foste noutro bosque tão diverso,
Noutras plagas gemer e suspirar;
Talvez que nem te lembres mais da moita,
Onde à sombra, de tarde, ias cantar.

Depois daquele dia, assaz saudoso,
Em que batendo as asas foste lá,
Por Deus! mulher, que luto com a tristeza,
E cismo que minh’alma é morta já.

Nem sei mais quando é dia ou noite mesmo;
Pois tudo se confunde em meu pesar;
Só sinto a dor pungente da saudade,
Como um verme, em meus seios se arrastar.

Porque te foste, pomba dos amores,
Quando eu mais quis ouvir-te gorjear?
Porque te foste, em ermo abandonaste
O caçador perdido no teu lar?

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